Economistas divergem sobre gravidade de crise americana

Enquanto alguns analistas alertam para pânico no mercado, outros dizem que problema não passa de mero drama político.

À medida que os temores financeiros foram passando da Europa para os Estados Unidos, os mercados reagiram com pânico, mas um pânico controlado.

Para alguns economistas, os problemas financeiros americanos podem ser mais sérios para a economia mundial do que a crise na Grécia.

Outros acreditam que o que vem sendo visto como uma crise econômica, relacionada a um impasse quanto ao teto do endividamento público, não passa de um drama político.

O governo americano precisa da permissão do Congresso para aumentar o limite da dívida pública do país, que está no patamar máximo permitido.

Caso não haja acordo até a próxima quarta-feira (3), a Casa Branca diz que terá de, pela primeira vez, deixar de cumprir seus compromissos financeiros.

Nesta quinta, um projeto republicano para tentar conter o problema não conseguiu apoio suficiente e teve sua votação suspensa. E, mesmo que aprovado, enfrentaria rejeição por parte dos democratas, já que os dois partidos não conseguem entrar em acordo quanto ao tema.

Deficit recorde
Por trás desse impasse o país enfrenta um grave problema econômico .

Assim como a Grécia, os Estados Unidos estão gastando muito mais do que a arrecadação por meio de impostos.

O deficit anual atingiu um recorde e foi calculado em cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 2,3 trilhões) para o ano fiscal que termina em setembro.

Os Estados Unidos atingiram seu limite legal de endividamento público – de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,3 trilhões) – no último dia 16 de maio.

O presidente americano, Barack Obama, e a oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes (deputados federais), concordam com a necessidade de reduzir gastos, mas divergem sobre o que cortar e que programas atingir.

Riscos
O principal temor dos investidores é que não haja um acordo até quarta-feira, e os EUA corram o risco de entrar em uma situação chamada default parcial, em que não há verba para honrar todos os pagamentos.

No entanto, é possível que não haja um pânico generalizado caso não ocorra um acordo até quarta-feira.

“Essa data não é um prazo final absoluto, pois a arrecadação tributária está indo bem até o momento”, disse o analista James Knigthley, da consultoria ING.

Se o governo realmente ficar sem dinheiro, pode suspender o pagamento de salários e aposentadorias.

A última vez que isso ocorreu foi em 1995, no governo de Bill Clinton. Na época, serviços não essenciais do governo foram suspensos, após negociações no governo fracassarem.

Cenário perigoso
Ainda assim, muitos economistas não acreditam que o país vai dar o calote, seja ele total ou parcial.

“O risco de isso acontecer é quase zero”, diz Josh Feinman, economista-chefe da agência de investimento DB.

No entanto, alguns credores privados dos títulos americanos dizem que estão se preparando para um possível calote parcial.

“Nós reposicionamos nossos portfólios para lidar com a ameaça de calote”, diz Robert Brown, da consultora Fidelity.

Isso significa que os fundos – que emprestam dinheiro aos bancos – já estão “economizando” para se preparar para o pior.

Com tanto em jogo, alguns afirmam que, se o impasse não for resolvido logo, ele pode minar a confiança do mercado.

“Vivemos um drama e vamos entrar em pânico sem um motivo justo”, alerta o professor Peter Morici, da Universidade de Maryland.

“Se eles decidirem algo no último minuto, talvez isso não seja suficiente para evitar o pânico. Muitas empresas estão acumulando capital e adiando contratações, e isso é o começo de uma crise.”

Diante de um cenário desses, a economia poderia, então, sofrer uma desaceleração.

Para Rick Patel, gerente da Fidelity International, isso seria apenas uma distração.

“A desaceleração que vimos em mercados emergentes ou em desenvolvimento, juntamente com a crise na Europa, é atualmente minha principal preocupação”, diz Patel.

Como ele, outros analistas acreditam que o foco logo voltará para a Europa, onde o governo não pode imprimir mais cédulas, como acontece nos EUA.

“Uma vez terminada essa história americana, vamos voltar ao passado e retomar a história da zona do euro novamente”, afirma Knightley.

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